segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Não Sei...



Pouco sei deste momento,
Desta solidão sem paz
E do vazio agourento
Que dentro de mim se faz
Nem sei se é somente medo
E se for, se chega ao fim
Não sei se está tarde ou cedo
Pois pouco conheço em mim
Mas do pouco que sei, tudo
Que me sabe dessa dor
É que me faria mudo
Se não fosse dor de amor

terça-feira, 3 de maio de 2011

Soneto aos Piratas


Outra dose de rum aos meus amigos
Aos que servem comigo em mar de vida
Aos que sabem, na hora da partida
Que estarei muito bem entre os perigos

Uma dose qualquer aos inimigos
Que também fazem jus uma bebida
Sua coragem, que seja aplaudida
Peço a Deus que encontrem bons abrigos

Uma dose pra mim eu ofereço
Em um brinde sem rumo ou sem motivo
Tanto faz a tristeza ou alegria

Navegando entre erros eu estou vivo
E encontrei muito mais do que queria
Saqueando o que acho que mereço.

domingo, 29 de novembro de 2009

Vou me levantar da rede!



Vou me levantar da rede,
Abrir mão da maresia,
Dar com a testa na parede,
Fazer tudo com alegria;
Pular, cantar e dançar,
Rimar, rimar e rimar:
Não sou ninguém sem poesia!

Vou reclamar muito pouco,
Sorrir pra dificuldade
Podem me chamar de louco
Mas não falto com a verdade;
Meu velho chapéu de palha
Me garante e nunca falha:
Sou matuto na cidade!

Quero cantar o sertão
Das mil histórias de feira;
Dos cabras de Lampião
Aos versos de Zé Limeira,
Do baião de Luizinho
Á Cícero, meu padrinho
E sua nação romeira

Das lutas com onça braba
Tenho prova e testemunha:
No meu chapéu, bem na aba
Tem um corte feito a unha
Por uma onça pintada
Que depois de bem surrada
A virar santa se punha

No meu matolão carrego
Tudo o que vi e vivi
Das bandas de Cacha Prego
Ás terras do Cariri;
Histórias de homem-lobo
Às vezes me sinto bobo
Porque quando vi, corri.

Vou me levantar da rede
Agora, sem demorar;
Saciar a minha sede,
Me colocar a versar,
Escrever mais um cordel
E cumprir o meu papel
De sempre continuar...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Miguel


Como Deus, neste mundo, não existe
Generoso, sem falhas, cumpridor
E por isso o fim de Miguel foi triste
Por achar-se perfeito, puro amor

A vaidade que ainda hoje insiste
Em fazer do mais puro, pecador
Agarrou o seu ego, pôs em riste,
Transformou em abutre o beija-flor

Pobre Miguel, está arrependido
De uma única ação tão desastrosa
Que borrou suas glórias do passado

Pensou em ser gentil com aquela rosa
Quando tudo se fez mais complicado
Obrigando o bom moço a ter mentido.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Tarcísio Mota e Creusa Meira em:


Estar Mal acompanhado
É pior que a solidão.



TM – Hoje eu estou sorridente
Ontem estava chorando
Por eu vê-la me deixando
Tão impiedosamente
Eu quase fiquei doente
Sofrendo desilusão
Mas percebi ser em vão
Todo pranto derramado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - A Tarcísio eu faço coro
Pois desse mal padeci
Porém hoje eu percebi
Não ter valido meu choro
Acho muito desaforo
Sofrer de desilusão
Pois maltrata um coração
Amar e não ser amado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

TM - Sem falar nas amizades
Que também me abandonaram;
No perigo desertaram,
Inventaram inverdades,
Mentiram barbaridades
Mas com fé no coração
Se me jogarem ao chão
Por Deus eu sou levantado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - Quando me sinto sozinha
Eu venho fazer cordel
Na esquina como pastel
E dou volta na pracinha
Ouço no rádio a modinha
Tento aprender violão
Mesmo que a minha canção
Seja assim desafinada
Estar mal acompanhada
É pior que a solidão


TM - Ontem à noite, sozinho
Saí para ver a lua
As pessoas pela rua
Arvores no caminho
Se uma flor tem espinho
Que fere o coração
De que me valeu então,
Mostrar-me tão dedicado?
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - Às vezes a recaída
Teima em trazer tristeza
Embassa nossa beleza
Cria um vazio na vida
Mas encontramos guarida
No meio da multidão
Alguém nos estende a mão
Num gesto bem delicado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão.

TM - Por esse amor perverso
Eu quis mudar minha vida
Deixei-a mal dividida
Hoje eu faço o inverso
Comecei a fazer verso
Pra alegrar o coração
Que sofria de montão
Ao ser tão pisoteado...
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - Também ao som da viola
Fui perdendo meu juízo
Hoje eu vejo o prejuízo
Que quase me descontrola
Ficou preso na gaiola
O meu pobre coração
Caí neste alçapão
Num passo falso dado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão.


TM - O passo em falso que dei
Eu chamo de confiança
A minha, só se alcança
Com o tempo, mas eu sei
Que confiando eu errei
Muito e sem precisão
Mas, se tu me der a mão
Me mostrarei confiado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - Comigo pode contar
Já tem todo meu carinho
Nunca ficará sozinho
Por onde você andar
Se a saudade apertar
Lembre-se desta lição:
O que hoje é desilusão
Amanhã será passado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão.

TM - Nasci só, morro sozinho
Me disse um grande amigo
Assim não corro perigo
Da traição no caminho
Vou levando com jeitinho
Ensinando essa lição
Que se está certa ou não
Eu não estou informado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão

CM - Eu não me dou por vencida
Faço nova tentativa
Enquanto eu estiver viva
Quero ser sempre querida
Mas não faço desta vida
Uma busca à exaustão
Dentro do meu coração
Está o que é bom, guardado
Estar mal acompanhado
É pior que a solidão...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vidas Secas em Cordel



Na planície avermelhada
Caminhava aquela gente
Sem ter outra opção
Seguiam apenas em frente
Passando dificuldades
Mas eles estavam rentes

Por não terem o que comer
Já andavam até banzeiros
Para afastar a morte
Esses pobres brasileiros
Comeram o papagaio
Que brincava nos poleiros

Contavam com a ajuda
Preciosa de Baleia
Uma cachorra esperta
Que pra garantir a ceia
Caçava alguns preás
(Quem fazia cara feia?)

Eles fugiam da seca
Que os assombrava então
Queriam de todo jeito
Caminhar mais um tantão
Parecia impossível
Sobreviver no sertão



Mas eles sobreviveram
E a chuva precipitou
Numa fazenda vazia
Fabiano se adentrou
Mas o problema foi quando
O fazendeiro voltou...

Ele se achava um bicho
Tendo ali sobrevivido
A mais uma estiagem
E não estar desvalido
Afinal com o fazendeiro
Já tinha se entendido...

Sempre queria ensinar
Aos filhos boa lição
Era preciso ser forte
Saber rezar oração
Viver como o pai e o avô
Respeitando a tradição

Tradição que foi quebrada
Quando se achou detido
Por um homem do governo
Amarelo e metido
Prendeu-o porque saiu
Sem antes ter despedido

E indo tirar pergunta
A esse humilde matuto
Pisou-lhe no pé o soldado
Fabiano todo bruto
Xingou a mãe do fardado
Mais por falta de estudo

Foi sufoco na cadeia
Tomou surra de facão
Foi tratado como um bicho
Passando humilhação
E pensava lá consigo
-Veja que esculhambação!

Tempos depois encontrou-se
Na catinga com o soldado
Que ali caminhava só
E estava desarmado
Resolveu não acabar
Com a vida do malvado...

Uma cama de verdade
Era tudo o que queria
A pobre Sinha Vitória
Que toda noite sofria
Fabiano prometeu
Que um dia compraria



E para poder comprar
A tão sonhada dormida
Queria até piorar
Aquela miserável vida
Economizando o pouco
Que gastavam com comida

E o menino mais novo
Admira Fabiano
Quer se parecer com ele
Monstruoso "cavalgano"
Um pouquinho diferente
Do seu querido mano

Que queria saber tudo
Gravava palavra nova
Não sabia o que era inferno
E quis obter a prova
Por conta disso ele quase
Levava uma grande sova

O sonho de Fabiano
Também era conhecer
Uma linguagem bonita
Pra que alguém pudesse ver
Que ele também era gente
E não deixara de ser...

Por mor de uma doença
Que a deixara bem feia
Tiveram que sacrificar
Sua cachorra baleia
Mandaram-na para o além
"Com a raiva que a rodeia"...

Tudo parecia bem
Até aquele momento
Mas sertão impiedoso
Sempre tinha seu intento
O verão se aproximava
Seria outro tormento

As aves que já estavam
Passando pela fazenda,
Fugindo da seca braba
Lutavam uma contenda
Por certo matavam o gado
-Bicho que não se emenda!

Fabiano não entendeu
Essa estranha verdade
Aves matarem o gado
Vejam que barbaridade!
Pensando um pouco ele viu
Uma possibilidade

Pois se bebiam a água
Que estava empoçada
Era como se no gado
Dessem a grande maçada
Os matariam de sede
-Era uma grande Jogada!

Do jeito que as coisas iam
Não teriam salvação
Sem água e sem comida
E sem outra solução
Começaram novamente
Uma peregrinação

O fim também é início
De mais uma nova vida
Caminhariam mil léguas
Em terra desconhecida
Viveriam lá no sul
Era a única saída.

...O que ficou para trás
Foram sonhos e poeira
Marcando eternamente
Essa família guerreira
Que se manteria viva
De toda e qualquer maneira... FIM